segunda-feira, outubro 30, 2006

Os domingos e a rádio!

“Ganhámos 3-0, com um grande golo do Kulkov!”

Fim de tarde de um domingo e chegado a casa de uns amigos logo me perguntam: “E o Benfica?!”. Para saber a sábia resposta era obrigatório colar os ouvidos ao rádio da cozinha, como se por estar a dois, dois centímetros e meio da “coluna” os golos chegassem antes a minha casa que à do vizinho… Foi assim, quando começou a minha paixão pelo Benfica, tive que me sentar horas num banco!

Após o fabuloso prolongamento do Isaías em Londres “passámos para os grupos da taça dos campeões”, explicou-me o meu pai. Dínamo de Kiev, Sparta de Praga e Barcelona foi o nosso grupo (91/92). O Águas em Kiev vi na TV, contudo para saber do Benfica-Barcelona passei a noite entre a sala, a jantar, e a cozinha, para imaginar as imagens da Luz a receber o futuro campeão europeu (até aí nunca tinham ganho e a falta do livre do Koeman foi mal assinalada). Na penúltima jornada do grupo recebemos o Dínamo, para termos aspirações a passar era preciso golear e ir ganhar a Barcelona. Naquela 2ª parte o rádio berrou tantas vezes, quantas eu pulei a sorrir para o meu pai :”Estamos a dar uma abada!”.

Assim era, antes das imagens das quarta-feiras europeias ou do Domingo Desportivo, era preciso merecer vê-las, sofrer cada minuto com a voz do António Macedo a transformar um lançamento numa, legítima, esperança de mais um golo! O penalty do Wiliam ao Sporting também foi na cozinha “que o vi” através do som. Os dois golos do César Brito (1991) foram de gala: (ou)vimos o jogo na sala, rodava em círculos de alegria à volta do meu irmão imaginando o Baía a ir buscar a bola uma vez mais:) “Vamos ser campeões” completava o meu Pai.

Assim foram as minhas primeiras épocas, ouvido na rádio, cabeça na lua e imagens para depois! Quem queria ver o jogo em directo, via ao vivo ou ouvia na rádio. A democratização das imagens em tempo real, confesso, não me merecem agora alegria! Ouvir os relatos de golos na rádio é fantástico…”É Golo, Goooooooooooooooooooooooooooooooolo! BENFICA!”. Segue-se depois um momento de ansiedade, “Rui Águas, o melhor marcador do campeonato…Domingos em Barcelos não conseguiu!”. Quem desce? quem sobe? De quem foi o golo que interrompeu este relato? A beleza de um coro a acompanhar o locutor a gritar golo é reconfortante não é? Ou é preferível ver em rodapé os resultados?

“No futebol a bola pode entrar e sair?”, perguntou a professora de educação física à turma “Claro, ainda este fim-de-semana em Guimarães o golo do Kulkov entrou e saiu!”

3 Comments:

At 6:11 da tarde, Blogger Manuel Neves said...

A rádio é uma loucura. Lembro-me de estar a voltar de Sevilha com o meu pai no 2-1 aos tripeiros (2 golos do Van Hoijdonk, o segundo a desviar um livre do ROger) e vinhamos a 40km/h...
Tudo parecia perigoso. Parecia que não havia meio campo e de uma área à outra era uma pausa para o relatador respirar. Lembro-me como se fosse hoje: "Pena rodeia Ronaldo, ATIRA! ENKE NÃO CHEGA...GOOOOLL, AO POSTE!" E um carro apita desenfradamente na auto - estrada. No segundo golo não sei como é que não batemos.
Hoje é tudo na sporttv, tvi, rodapés. Perdeu-se a magia. Restam aqueles que a viveram e que a escrevem :)

PS: o golo do Mostovoi, festejei-o ouvido na rádio, sozinho em casa. E, heroicamente, suportei o "massacre azul e branco" (título doRecord no dia seguinte) sozinho.

 
At 8:15 da tarde, Blogger Jesus said...

O rádio já não é o que era, mas as idas aos estádios tambem não, falas neste post dos 0-2 nas Antas, eu fui ver este jogo, tinha nove anos e nunca hei-de esquecer este jogo porque foi a minha primeira desilusão num estádio de futebol por causa da derrota do Porto mas tambem não me hei-de esquecer é que fui para a superior norte das Antas e só estavam benfiquistas coisa que nunca mais assisti. Quando tinha 3 ou 4 anos, fui a Lisboa dois anos seguidos com a minha familia de camioneta em dias de jogos contra o Benfica, não me lembro destas viagens mas os meus pais ja me falaram delas e tenho fotos minhas na pç da Figueira de cachecol e de bandeira do Porto. Não fui ver esses jogosEram tempos em que o Porto ou o Benfica levavam seguramente 15 mil pessoas ao estádio adversário. Eram auténticas romarias em que os homens iam a bola e as mulheres e os filhos visitavam as cidades. Isto já não acontece já que se assiste uma mudança de mentalidadese de tradições em Portugal e só a final da Taça de Portugal é que ainda mantem este espirito.

 
At 12:11 da tarde, Blogger D. said...

As idas ao estádio... Lembro-me de 90.000 na Luz em que 30.000 eram do Porto, nessa tarde vi, no São Luís o Farense espetar 4.1 no Guimarães...Na luz o João Pinto marcou o penaltie decisivo (2.3 em 91/92)!

 

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