terça-feira, outubro 31, 2006

O Remate e as K7s

“Isto é um programa de Desporto que dá todos os dias!”

Nas quentes e infinitas noites de Verão o tempo também se torna útil ao actualizar a informação desportiva presente e passada. Ora a ver o Remate e saber as contratações de Verão, ora a ver o Mundial ’90, “Les plus belles moments de foot”, o “Viva o Brasil” ou a K7 do Jornal entrava madrugada adentro na companhia do futebol!

Foi a ver o Remate que soube quem era o mais recente avançado do campeão Benfica, no Verão de 91 chegava o Yuran ao Benfica. O russo lá estava a entrar no carro após ter assinado o contrato na velha Luz. Equipávamos de hummel e a fnac (ares condicionados) surgia no peito dos nossos campeões (bem como nos do Farense)! Ao querer saber que marca nos equiparia na época seguinte, aguardei para ver o tal programa diário que tanto me alegrava as noites de Verão no início da década de 90!

Contudo, aqueles dez minutos nem sempre eram suficientes para me preencher a, precoce e promissora, aprendizagem futebolística! Ciente da minha adoração pelo futebol, a minha Mãe, regressada de Paris ofereceu-me uma K7… “Em francês?” perguntei eu, “Não se o nosso vídeo lê as K7s franceses” acautelou o meu Pai! Becknbeuer, Croyf, Kempez e Mardona foram-me então apresentados a preto e branco, a K7 terminava com o melhor jogador de sempre a cair na área e a sorrir… o sorriso tinha sido poucos anos antes na relva do México!
Os magriços ali estavam a brilhar em 66, o jogo da Coreia, o campeão Brasil aos pés de Eusébio, Pele a ser bem violentado… Charlton a rematar e eu a não gostar! Tudo com direito a visita guiada do meu Pai – “Fomos de comboio para Londres, mas os ingleses é que deviam ter ido jogar a Liverpool!”.

Os meus tios de Beja foram passar um agradável fim-de-semana a minha casa e deram-me a escolher entre duas K7s: “Itália 90” e outra igual à de cima mas a cores! A inocente e lógica escolha não imaginava quantas horas implicaria da minha atenção e admiração! Percebia bem o que era o Mundial, a fase de grupos, os oitavos de final, o prolongamento, os penalties, as meias, a final…
San Siro nos olhos, Miguel Prates nos ouvidos, Omanbike e os Camarões na surpresa, Enzo Scifo a marcar ao Uruguai, Caniggia a fazer chorar a canarinha no Dele Alpi, Rijkard e Voller, Roménia e Irlanda nos penalties, Liniker e Bobby Robson numa meia-final, Nápoles na outra, Mathaus a festejar e Maradona a chorar!

Não mais qualquer reportagem ou pormenor de mundiais de futebol me mereceram desprezo, é espectacular saber, mais do que quem venceu o Mundial, todos os grupos, resultados, lances polémicos, melhores marcadores, festejos…

Sempre que posso sento-me e vejo K7s de futebol, com o M. vi o Itália 90 e 93/94 numa noite de um destes Verões claro está! A colecção dos magriços e patrícios também as tenho, ao moderno DVD da FIFA e dos Mundiais também não resisti!

“Depois do Remate acaba a emissão do canal 1…”, informava-me o meu Pai, mas todos os dias alguns momentos de Mundiais e campeonatos longínquos me assaltam informo eu!

segunda-feira, outubro 30, 2006

Os domingos e a rádio!

“Ganhámos 3-0, com um grande golo do Kulkov!”

Fim de tarde de um domingo e chegado a casa de uns amigos logo me perguntam: “E o Benfica?!”. Para saber a sábia resposta era obrigatório colar os ouvidos ao rádio da cozinha, como se por estar a dois, dois centímetros e meio da “coluna” os golos chegassem antes a minha casa que à do vizinho… Foi assim, quando começou a minha paixão pelo Benfica, tive que me sentar horas num banco!

Após o fabuloso prolongamento do Isaías em Londres “passámos para os grupos da taça dos campeões”, explicou-me o meu pai. Dínamo de Kiev, Sparta de Praga e Barcelona foi o nosso grupo (91/92). O Águas em Kiev vi na TV, contudo para saber do Benfica-Barcelona passei a noite entre a sala, a jantar, e a cozinha, para imaginar as imagens da Luz a receber o futuro campeão europeu (até aí nunca tinham ganho e a falta do livre do Koeman foi mal assinalada). Na penúltima jornada do grupo recebemos o Dínamo, para termos aspirações a passar era preciso golear e ir ganhar a Barcelona. Naquela 2ª parte o rádio berrou tantas vezes, quantas eu pulei a sorrir para o meu pai :”Estamos a dar uma abada!”.

Assim era, antes das imagens das quarta-feiras europeias ou do Domingo Desportivo, era preciso merecer vê-las, sofrer cada minuto com a voz do António Macedo a transformar um lançamento numa, legítima, esperança de mais um golo! O penalty do Wiliam ao Sporting também foi na cozinha “que o vi” através do som. Os dois golos do César Brito (1991) foram de gala: (ou)vimos o jogo na sala, rodava em círculos de alegria à volta do meu irmão imaginando o Baía a ir buscar a bola uma vez mais:) “Vamos ser campeões” completava o meu Pai.

Assim foram as minhas primeiras épocas, ouvido na rádio, cabeça na lua e imagens para depois! Quem queria ver o jogo em directo, via ao vivo ou ouvia na rádio. A democratização das imagens em tempo real, confesso, não me merecem agora alegria! Ouvir os relatos de golos na rádio é fantástico…”É Golo, Goooooooooooooooooooooooooooooooolo! BENFICA!”. Segue-se depois um momento de ansiedade, “Rui Águas, o melhor marcador do campeonato…Domingos em Barcelos não conseguiu!”. Quem desce? quem sobe? De quem foi o golo que interrompeu este relato? A beleza de um coro a acompanhar o locutor a gritar golo é reconfortante não é? Ou é preferível ver em rodapé os resultados?

“No futebol a bola pode entrar e sair?”, perguntou a professora de educação física à turma “Claro, ainda este fim-de-semana em Guimarães o golo do Kulkov entrou e saiu!”

quinta-feira, outubro 26, 2006

Sempre gostei de encontrar fanáticos como eu...

"Pergunta-lhe que ele sabe!" dizem os comuns adeptos uns para os outros em relação a mim!

Nunca me fiquei por ver o jogo, apagar a televisão, dormir e guardar o resultado um mês. A fase subsequente sempre me deu um especial prazer, os fins-de-semana eram dedicados aos jogos, resumos, desporto2... O meu irmão queria ver o top + mas eu queria era a tarde toda a ver as reportagens dos clássicos, o jogo, os resumos e comentários!

É para mim constrangedor perguntar ao resto da mesa se se lembram do, tão imediato e sempre presente, 4-4 em Leverkusen e a resposta ser negativa! Não compreendo como não se lembram do dia seguinte ao acontecimento, dos comentários dos colegas e do deitar eufórico com um sorriso vitorioso.

Entretanto já me fui cruzando com muitos que me surpreedem, todos com trunfos altos e muitas memórias de mundiais, finais europeias, clássicos e derbies convergentes com as minhass! Aí sinto que o futebol mexe connosco de uma forma incrível e que os adeptos que não têm gosto em recordar este ou aquele momento, não sentem a euforia como nós!

São memórias que me acompanham por toda a vida, os jogos são a referência do meu calendário, o tempo conta-se em épocas e muitas das tristezas cruzam-se com derrotas, empates ou vitórias de outros!

Quando na mesa está pelo menos outro penso :"Porreiro, não vou ter que guardar para mim esta alegria toda!"